Olá, leitora. Olá, leitor. Tudo bem?
Na próxima sexta-feira, dia 5 de maio, comemora-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa. A data havia sido estabelecida em 2009, pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e proclamada pela UNESCO em 2019, para celebrar as culturas lusófonas e sua respectiva língua. São oito os países que adotam o português como língua oficial, mas ele é conhecido e falado em todos os continentes, somando mais de 265 milhões de pessoas no mundo.
Prêmio Camões
E como estamos aqui pela Literatura, aproveito o mote para falar do Prêmio Camões, instituído em 1988, com o objetivo de consagrar escritores de língua portuguesa, tanto pelo conjunto da obra como por sua contribuição para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural de nossa língua comum.
O Camões é considerado o mais importante prêmio da língua portuguesa e contempla anualmente escritores da CPLP, citada acima. A sua comissão julgadora é composta por representantes do Brasil, de Portugal e de outros países com língua oficial portuguesa - Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
A primeira premiação ocorreu em 1989, quando o escritor português Miguel Torga foi contemplado. No ano seguinte, ele ficou com o nosso o grande João Cabral de Mello Neto. De lá para cá, o Brasil soma 14 Prêmios Camões, empatando com Portugal, Moçambique possui três, Angola e Cabo Verde empatam com dois cada um.
E onde estão as escritoras?
Se você fez as contas, verá que foram entregues 35 premiações. Destas, apenas sete mulheres o receberam. Como sempre, um número muito baixo para o reconhecimento da produção literária de tantas boas escritoras. Retrato de uma história cuja tecla venho batendo muito aqui.
Rachel de Queiroz e Lygia Fagundes Telles foram as únicas escritoras brasileiras a receberem o Prêmio Camões (foto: divulgação)
Do Brasil, foram duas, Raquel de Queiroz, em 1993, e Lygia Fagundes Telles, em 2005. As duas dispensam apresentações. Até porque, de Lygia, falei na newsletter nº 42, de 19 de abril último. Aqui está o link:
https://vanessameriqui.substack.com/p/nao-cortaremos-os-pulsos-ao-contrario
E de Rachel de Queiroz, como estou terminando de reler o seu lindo romance As Três Marias, falarei dela na próxima news, que sairá na quarta-feira que vem, dia 10.
Além das nossas duas escritoras, o Camões foi outorgado a quatro portuguesas e uma moçambicana. Vamos falar delas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Velho da Costa, Agustina Bessa-Luís e Hélia Correia (da esquerda para a direita), foram as quatro escritoras portuguesas que receberam o Prêmio Camões. Hélia Correia é única que está viva. (fotos: divulgação)
Sophia de Mello Breyner Andresen foi a primeira mulher portuguesa a receber o Camões, em 1999. Ela é considerada uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX, além de publicado vários livros de contos e de literatura infantil.
A romancista e ensaísta Maria Velho da Costa o recebeu em 2002. O Camões veio ampliar a longa lista de prêmios recebidos por esta escritora que, em 1972, tornou-se mais conhecida depois da polêmica em torno da obra Novas Cartas Portuguesas, que escreveu junto com as autoras Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno. Esta publicação claramente feminista e antifascista, provocou o regime ditatorial de então e levou as suas três autoras ao tribunal, sendo condenadas a diversas sansões, que só foram interrompidas com a Revolução do Cravos, ocorrida em 1974.
Dois anos depois, foi a vez de Agustina Bessa-Luís, outra romancista igualmente premiada, que começou sua carreira literária em 1949, tendo recebido o Camões quando tinha 81 anos. Em 2015, quem o recebeu foi a escritora e tradutora Hélia Correia, a única que está viva entre as escritoras portuguesas premiadas. Para ser sincera, não li nenhuma das obras dessas escritoras portuguesas e fiquei bem incomodada com isso. Claro que é muito difícil manter a leitura em dia, mas claro, já coloquei todas na minha lista.
A escritora moçambicana Paulina Chiziane, quando esteve aqui no Brasil a convite da Bienal do Livro SP, em 2022, é a única de seu país a receber o Prêmio Camões. (foto: divulgação)
Já a autora moçambicana, a linda Paulina Chiziane, foi contemplada com o Prêmio em 2021. Foi uma delícia vê-la ganhar, porque eu já era fã, havia lido alguns livros dela, amei quando esteve aqui no Brasil a convite da Bienal do Livro SP, em 2022, e a acompanho nas redes sociais. Adoro o trabalho que Paulina faz, sempre com foco nas questões femininas em sua obra. Tanto que tenho aqui também newsletter sobre ela, a de nº 36, de 01 de março deste ano, dedicada a ela, cujo link reproduzo aqui:
https://vanessameriqui.substack.com/p/paulina-chiziane
Para encerrar
Bom, você deve ter ouvido sobre o Camões no final de abril, pela repercussão da entrega da outorga a Chico Buarque. O Prêmio foi concedido ao Chico em 2019, mas ele foi impedido pelo governo anterior de recebê-lo. Quatro anos depois, finalmente a entrega pôde acontecer e foi linda! Chico, que não é só cantor e compositor – e sim um escritor contemporâneo fantástico, com vários romances publicados – bem mereceu o Prêmio.
Chico Buarque só conseguiu receber o Camões quatro anos depois de ter sido premiado. (foto do ato do recebimento da premiação: divulgação)
E se você considera importante as informações desta newsletter, me ajude a divulgá-la.
Vamos incentivar cada vez mais leitores a leter Literatura produzida por, para e sobre mulheres.
Também te convido a me acompanhar nas redes sociais.
linktr.ee/escritoravanessameriqui
Te espero na próxima semana
Abração
Quiçá tantas autoras estupendas terão lugar nos prêmios mais reconhecidos
Bjo Van obrigada
Também não li nenhuma dessas autores portuguesas, Van. Minha vizinha de porta leu e fã da Augustina Bessa-Luís, e adora "A Sibila" e o tal "Vento, areia e amora brava". Também ouvir dizer que essa Bessa é danada de complicada. De gente complicada eu corro léguas, Van. Mas a Paulina Chiziane é maravilhosa. E li três romances dela. Maravilhosos! Das sete, eu li três autoras. Já é alguma coisa.