Olá, leitora. Olá, leitor. Tudo bem?
Com a divulgação do Prêmio Nobel para escritora sul-coreana Han Kang, em outubro deste ano, já se registra crescimento na busca por livros de autoria oriental. Há algum tempo eu vinha lendo escritoras do Oriente – e se há um grupo que vem se destacando no meio literário na última década é o de autoras asiáticas.
Me apaixonei pela literatura japonesa. Não vou falar sobre o primeiro escritor que nos vem à mente quando se fala da produção literária daquele país, que é o premiadíssimo autor Haruki Murakami, ou do nipo-britânico Kazuo Ishiguro, que venceu o Nobel de Literatura de 2017. Vou destacar duas autoras contemporâneas que me arrebataram.
Eu me encantei inicialmente com a japonesa Hiro Arikawa, autora de “Relatos de um gato viajante” (Alfaguara), um presente sensível de minha amiga Eliana Atihé. Que livro lindo! Com um enredo que aparentemente já vimos várias vezes – a amizade entre um homem e um animal – a história nos leva pela delicadeza dessa relação e pela maneira como ela vai descrevendo detalhes de um Japão desconhecido. O gato Nana e seu dono Sakuro estão atravessando o país todo para visitar velhos amigos do rapaz. Nana não sabe o que está por trás das reais intenções de seu dono (nem os leitores). E a autora nos faz viajar com eles, com detalhes deliciosos, numa narrativa leve, divertida e sensível.
Hiro Arikawa tem vários livros que são best sellers no Japão. Mas aqui no Brasil, traduzido para o português, vamos encontrar apenas este.
Tempos depois, saí da leveza do gato viajante para me debruçar sobre o best seller de outra autora japonesa, que se tornou um fenômeno mundial: “Querida konbini”, (Estação Liberdade) de Sayaka Murata. A autora traz a protagonista Keiko narrando a sua história em primeira pessoa. Ficamos então a par de seu cotidiano automatizado e totalmente sob controle, trabalhando há mais de vinte anos em uma konbini, espécie de loja de conveniência japonesa.
A maneira como Keiko se isola, abrindo mão praticamente de tudo em sua vida para se amalgamar com a rotina da konbini por desejo próprio, nos faz refletir sobre questões como solidão, apatia, falta de desejo, de libido. Tudo chega a incomodar e essa metáfora de despersonalização voluntária em prol da loja fez com que o romance fosse elogiado por retratar a sociedade contemporânea japonesa e a massacrante vida nas grandes cidades.
Este ano, ainda no Japão, mas fugindo um pouco de minha proposta de conhecer sempre mulheres que screvem, me dobrei à obra delicada do escritor japonês Toshikazu Kawaguchi, “Antes que o café esfrie” (Valentina). Bem diferente dos dois que citei anteriormente, os quatro volumes disponíveis no Brasil, têm como premissa a narrativa no fantástico, o que o torna também um encanto.
Em uma ruazinha de Tóquio, num subsolo, existe um local que, há mais de 100 anos, serve um café cuidadosamente preparado. Os clientes que o procuram sabem que, ao tomar o conteúdo daquela única xícara, podem viver uma experiência única: fazer uma viagem no tempo e encontrar pessoas com quem têm pendências no passado. Mas a jornada é curta, pois é imprescindível que retornem antes que o café esfrie. Histórias bonitas acontecem ali.
Quero mais…
Bem, gostaria de ter lido mais. Não estão aqui autoras como Banana Yoshimoto, pseudônimo da japonesa Mahoko Yoshimoto, escolhido por ela, segundo consta, pela beleza da flor de bananeira. Não posso falar de seus livros, que também são campeões de vendas, como “Doce manhã” e “Tsugumi”, porque não os li ainda. Também estão na minha lista a escritora japonesa Izumi Suzuki, que foi considerada uma das pioneiras da ficção científica no Japão. A lista é grande, na verdade, e se você tiver alguma sugestão, por favor, deixe para mim nos comentários.
Na Coreia do Sul
Eu comecei esta News falando da autora sul-coreana Han Kang, que acaba de ganhar o Nobel de Literatura, e que já foi tema da News anterior. Acontece que bem antes de ler “A vegetariana”, eu já havia lido o super badalado “Pachinko” (Intrínseca), lançado em 2017 pela escritora Min Jim Lee, que só chegou ao Brasil em 2020.
A história tem início nos anos 1900, quando a adolescente Sunja apaixona-se por um rico forasteiro, na Coreia. Grávida, se recusa a ser comprada por ele. Em vez disso, aceita o pedido de casamento de um homem gentil que está de passagem pelo vilarejo, rumo ao Japão. A decisão de rejeitar o poderoso pai de seu filho e dar novo rumo à sua vida é o início a uma saga dramática, que será contada ao longo de gerações por quase cem anos.
O título faz alusão a um jogo de caça-níqueis muito conhecido em todo o Japão, há muitas as casas de pashinko no país. São nesses salões que a população coreana no Japão, discriminada e excluída, como Sunja e seus descendentes, podem conseguir trabalho e tentar juntar algum dinheiro. O livro traz muitas referências a um século de jornada, costumes e tradições, tanto do Japão quanto da Coreia do Sul. Não à toa tornou-se best seller em todo o mundo. Eu gostei.
Agora, estou lendo “Bem-vindos à livraria Hyunam-dong” (Intrínseca), da sul-coreana Hwang Bo-reum. É bem leve e gostosinho de ler. Narra a decisão da jovem Yeongju de montar uma livraria. Cercada por livros, ela encontra um novo significado para a vida à medida que a livraria se transforma em um espaço convidativo para que almas feridas se curem, descansem e descubram o que realmente importa.
Ainda não terminei, mas diz a resenha que esta é uma história sobre momentos decisivos da nossa vida e de como os livros são capazes de curar feridas e mudar as pessoas. Enfim, a minha cara!
Para encerrar
Estou produzindo essa newsletter em meio à divulgação das vencedoras do Prêmio SP de Literatura, as escritoras Luciany Aparecida, com “Mata Doce”, como melhor romance; e Eliane Marques, com “Louças de Família”, como melhor romance de estreia.
Na semana anterior, saiu o resultado do Prêmio Biblioteca Nacional, onde tivemos Maria Valéria Rezende na categoria conto, com Toda palavra dá samba, Micheliny Verunschk e Maria José Silveira como segundo e terceiros lugares em romance, com Caminhando com os mortos e Farejador de águas. Todas são escritoras de quem sou super fã!
E, na semana que vem, teremos o anúncio dos vencedores do Prêmio Jabuti, no qual diversas escritoras que já citei nesta News podem sair vencedoras. Portanto, a próxima News será sobre essas autoras que, com certeza, enriquecem a cena da Literatura brasileira contemporânea.
Vamos nos falando. Se quiser me encontrar nas redes sociais, saber de meus livros e conversar comigo. é só clicar no link abaixo.
linktr.ee/escritoravanessameriqui
E se gostou desta News, divulgue, compartilhe. Eu agradeço a sua leitura e sua partilha. Caso não a encontre, verifique a caixa de spam ou na aba “promoções” do e-mail. Nunca se sabe...
Até mais.
Eita! Já tem um tempinho que não apareço aqui, mas leio todas as suas newsletters. Pra variar adorei as indicações! Já vou procurar!!! Antes que o café esfrie, me instigou!
Tenho uma pergunta: esses livros que você indicou foram traduzidos direto do original? Tenho essa curiosidade e nem sempre consigo encontrar a informação online, só olhando na ficha do livro mesmo. Muitas vezes, pela dificuldade em se encontrar tradutores de idiomas mais raros, a tradução pro português pode ser baseada já em outra tradução, como do inglês.
E, mais importante, quem traduziu? (Você conhece a campanha #quemtraduziu, para darmos crédito aos tradutores dos livros a que temos acesso graças a eles?) :-)