Olá leitoras e leitores
Dou aqui continuidade à minha proposta de escrever sobre escritoras chamadas Maria, uma forma de vincular esta News com o meu livro MARIAS, que será lançado no próximo dia 20 de setembro, na Amazon! Já falamos de Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus.
Esta News começa com uma história. E como contadora de histórias não posso deixar de trazê-la a vocês. Foi há alguns anos. Eu estava em um Congresso de Educação aqui em São Paulo. Havia ido para um ciclo de palestras e, quando vi a escritora Maria Valéria Rezende à mesa, minha alegria foi imensa.
O debate era sobre iniciativas que estimulassem a leitura e Maria Valéria não estava lá como autora, e sim como uma das idealizadoras do Mulherio das Letras, coletivo literário que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras profissionais ligadas à Literatura. Ela falava mansamente, em contraponto com outras mulheres à mesa, estas bem mais jovens e um tanto mais eufóricas em suas falas.
Ela também se mostrava empolgada com o assunto, mas o seu falar calmo e compassado tinha a ver com sua maturidade, acredito eu. E as outras palestrantes, conhecidas influencers, monopolizam de tal forma a palavra, que ela apenas olhava para as meninas. E eu apenas olhava para ela. Eu já era sua leitora, mas foi ali que me tornei fã de Maria Valéria Rezende.
Jabutis
Conhecia a obra de Maria Valéria desde 2009, quando ela ficou em segundo lugar no Prêmio Jabuti, na categoria infantil, com o livro No risco do caracol. Em 2013, ela ficou em terceiro lugar da mesma premiação, só que desta vez na categoria juvenil, com Ouro dentro da cabeça.
E aí, em 2015, ela arrebata o primeiro lugar, vencendo nas duas das mais importantes categorias do Jabuti: romance e livro do ano de ficção, com Quarenta dias. Mais tarde, em 2017, Outros Cantos também ficou entre os romances finalistas do Jabuti. E em 2018, ainda esteve entre os finalistas na categoria conto, com a coletânea A face serena.
Pois é, como não se encantar com uma escritora que, em tão poucos anos, nos ofereceu uma produção literária desta envergadura, mantendo-se finalista de várias edições de um dos mais importantes prêmios brasileiros de Literatura, em diferentes categorias?
Outros Prêmios
E não parou aí. O livro Outros Cantos foi vencedor do Prêmio São Paulo de 2016 como melhor romance; e recebeu o Casa das Américas em 2017. E Carta à Rainha Louca, de 2019, foi finalista, em 2020, do Oceanos – o maior prêmio literário de língua portuguesa no mundo – ficando atrás do vencedor Torto Arado.
Maria Valéria é também autora do romance O vôo da guará vermelha (2005), das coletâneas de contos Modo de apanhar pássaros à mão (2006), Histórias daqui e d’acolá (2009), Histórias nada sérias (2017), do livro de poesias Ninho de haicais (2018), entre vários outros. Seus livros foram publicados na Espanha, França e Portugal.
Eita Maria porreta esta! Não havia como não ficar feliz ao vê-la sentada em uma mesa, diante de mim.
A escritora
Ela completará 80 anos em dezembro próximo. Nasceu em Santos, onde morou até os 18 anos. Depois foi para o sertão pernambucano e, desde 1976, vive na Paraíba.
Na juventude, tornou-se freira da Congregação de Nossa Senhora Cônegas de Santo Agostinho. Sim, ela ainda é freira. Sempre esteve envolvida com questões sociais e políticas, engajou-se nos movimentos contra a ditadura.
Graduada em Língua e Literatura Francesa, Pedagogia e mestre em Sociologia, dedicou-se, desde os anos 1960, à Educação Popular em diferentes regiões do Brasil e no exterior, tendo trabalhado em todos os continentes, com programas de formação para educadores.
Quando fez sua estreia na Literatura tinha mais de 60 anos. Havia muito o que escrever.
Entre suas obras, escolhi os três romances dela que me impactaram demais.
Quarenta dias
Alice, a narradora-protagonista, é uma professora aposentada, obrigada pela filha a largar sua pacata vida em João Pessoa, para mudar-se para Porto Alegre, onde vai viver dias de desespero, perdida na cidade que desconhece totalmente.
São comoventes os seus escritos em um caderno escolar, com a imagem da boneca Barbie na capa, sobre a mudança brusca em sua vida, seu mergulho numa periferia empobrecida que ela não conhece, à procura de um rapaz que ela não sabe ao certo se existe, todas as descobertas, encontros e desencontros.
“Pronto, contar a mim mesma, tim-tim por tim-tim, o que me anda acontecendo, desabafar com a boneca loira e o papel pautado, moucos e calados, incapazes de assustarem-se e nem dizer que estou doida... Esse caderno de ninguém e essa esferográfica barata são exatamente do que eu preciso”.
Quarenta Dias, vencedor do prêmio Jabuti de 2015, como melhor romance e livro do ano.
Outros cantos
Conta a história de Maria, que, na juventude, torna-se professora do Mobral e vai viver no sertão nordestino para cumprir sua militância política contra a ditadura militar. Lá torna-se amiga de Fátima, uma moradora local. Maria é uma mulher emancipada social e politicamente, que carrega suas próprias escolhas; e Fátima, uma sertaneja arretada, obrigada a resistir em um espaço tipicamente masculino para garantir sua sobrevivência e do filho que cria sozinha. Duas mulheres completamente diferentes, que estabelecem uma forte relação marcada pela identificação entre elas e o aprendizado decorrente deste encontro. Maria vai se lembrar dessa experiência 40 anos depois, ao voltar para o Nordeste, em uma cansativa viagem de ônibus.
“Despertei decidida, com um pequeno plano a pôr em prática imediatamente. Nada mais de caixinhas fechadas cheias de objetos secretos, amuletos portadores de melancolia e bestagem, como dizia Fátima. Exorcizar as ilusões era a melhor coisa a fazer, deixar tudo exposto, às claras, para que a luz do dia lhes tirasse o encanto.”
Outros Cantos, finalista do Jabuti e vencedor do Prêmio São Paulo de 2016, como melhor romance, também premiado com o Casa das Américas, em 2017
Carta à Rainha Louca
Uma mulher, Isabel das Santas Virgens, é encarcerada em um convento de Olinda, juntamente com sua patroa, Blandina, de família tradicional e muitas posses. Corre o ano de 1789 e, inconformada, Isabel resolve escrever cartas para nada mais nada menos do que a Rainha Maria I, que sabidamente foi acusada de insanidade por inimigos políticos, passando para a História como A Louca. Assim como a Rainha, Isabel também é considerada insana.
Carta à Rainha Louca foi finalista, em 2020, dos Prêmios Oceanos e Jabuti
Diversas questões são surpreendentes neste livro. Primeiro, porque Maria Valéria Rezende escreve com a linguagem setecentista, resultado de um intenso trabalho de pesquisa. Além disso, o romance é por demais contemporâneo, já que fala do encarceramento da mulher, quer no sentido literal – ambas são presas no convento, por ordem do marido de Blandina, com intenção de se livrar dela – como também no sentido figurado, já que são silenciadas em suas escolhas, impedidas em suas decisões.
E o mais interessante é a maneira como a autora destaca as questões delicadas, às quais ela quer chamar atenção, que certamente à época deveriam ser veladas: elas são escritas por Isabel, que depois, temerosa, as rabisca para tirá-las do texto. Mas os trechos excluídos, por decisão da autora, permanecem em todo o livro, mesmo rabiscados, para que o leitor os possa ler. Puro deleite!
Naquele encontro
Depois da palestra, me aproximei de Maria Valéria Rezende. Ela estava sentada atrás de uma mesa preparada para autógrafos. Fiquei ao final da fila e rapidamente puxei assunto, enquanto ela autografava o meu exemplar de Outros Cantos, que comprei lá mesmo. Disse-lhe que eu gostara muito do já havia lido dela e que com certeza gostaria daquele também. Ela agradeceu, perguntou o que eu fazia, falei um pouco do meu trabalho e começamos a conversar sobre a vida. Lembro-me que ela me falou de João Pessoa, de um curso de escrita criativa que havia dado e de que estava feliz por Conceição Evaristo ter ido até a ABL entregar sua candidatura (o que havia acontecido pouco tempo antes). Foi um bate-papo gostoso de duas mulheres que amam Literatura. Ao final, agradeci a ela pela obra. E ela se despediu de mim dizendo:
– Eu é que tenho que agradecer a você. Com tantos livros para ler, você está lendo justamente os meus!
Abracei-a comovida. Eita Maria porreta esta!
E para encerrar
Vou bater na mesma tecla novamente:
Para adquirir o meu livro MARIAS, que sairá em formato e-book pela Amazon, no próximo dia 20 de setembro, NÃO é preciso ter o Kindle. Basta baixar gratuitamente o aplicativo para o dispositivo que você tiver, seja celular, tablet ou computador, em qualquer lugar em que você esteja.
Entre em seu navegador e acesse o site da Amazon: www.amazon.com.br. Você vai observar que no menu à esquerda, estão as opções gratuitas de aplicativos e dispositivos para baixar. É muito simples.
Viu, assim fica bem mais fácil você ler MARIAS e tantas outras coisas boas.
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Até a semana que vem.
Vanessa
Olha só: este ano, ganhei de presente em meu aniversário, o livro Carta à Rainha Louca. Entrou na minha fila de espera para leitura. Ignorante que sou, não imaginava a grandeza da autora. Após a leitura deste seu texto, o que você acha que vai acontecer? O livro vai para a cabeceira da minha cama!
A irmão dela Valentina Rezende, trabalhei com a irmã dela na Sec de Turismo! E a prima delas Karen Rithichie, foi com quem fiz meu primeiro book ..rs....e tb ja me fotografou muito em cena...