Literatura no Dia Internacional dos Povos Indígenas
Vamos falar de escritoras indígenas brasileiras
Olá, leitora. Olá, leitor. Tudo bem?
O Dia Internacional dos Povos Indígenas é comemorado no dia 9 de agosto desde 1994, marco criado pela Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com a Organização, não se trata apenas uma homenagem, o objetivo é reconhecer as tradições e promover a conscientização sobre a inclusão dos povos originários na sociedade, reafirmando as garantias previstas na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Este ano, o tema para reflexão é Juventude.
Vamos falar de literatura indígena
No ano passado, a ONU definiu como tema o papel das mulheres indígenas na conservação e transmissão dos conhecimentos tradicionais. Na ocasião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que são elas as guardiãs de sistemas tradicionais de alimentação e remédios naturais, que transmitem as línguas e as culturas dos povos e fortes defensoras do meio ambiente e dos direitos humanos.
E isso tem tudo a ver com a literatura produzida por nossas escritoras indígenas. E, felizmente, a produção de livros e outras publicações de autoria feminina para o resgate da cultura de nosso povo originário está crescendo.
Porém, é sabido que há maior divulgação para a excelente e necessária produção literária dos homens que escrevem, como Kaká Werá, Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Cristino Wapishana, estes dois últimos vencedores do Prêmio Jabuti. Isso é muito importante, repito, mas fala-se pouco das escritoras indígenas.
Portanto, penso nunca ser demais repetir, já fiz isso em News anterior. Não vou conseguir citar muitas, mas deixo ao final uma dica imperdível para você conhecê-las.
Eliane Potiguara
Eliane Potiguara: o seu primeiro livro A terra é mãe do índio, assim como sua produção de poemas-pôster e de cartilhas sobre a história e a educação dos povos originários, obras que ela iniciou na década de 1970, tornaram-se um marco na literatura indígena contemporânea. (foto divulgação)
Considerada pioneira. Eliane Potiguara publicou seu primeiro livro em 1975, o clássico A terra é mãe do índio. Ativista indígena, foi nomeada Embaixadora Universal da Paz em Genebra, recebeu o título de Cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural do Brasil, foi indicada pela ONU para trabalhar a favor da paz no mundo e participou da elaboração da Declaração Universal dos Povos Indígenas na ONU. Foi fundadora do Grupo Mulher-Educação Indígena (Grumin) e é membro do Enlace Continental de Mujeres Indígenas de las Americas (Ecmia). Graduada em Letras e licenciada em Educação pela UFRJ, tornou-se, em 2021, a primeira mulher indígena Doutora Honoris Causa, título concedido pela mesma Universidade.
Com 73 anos, ainda escreve e conta histórias. Além de A Terra é Mãe do Índio, publicou Metade Cara, Metade Máscara (2004), O Coco que Guardava a Noite (2004), O Pássaro Encantado (2014) e A Cura da Terra (2015), além da cartilha de alfabetização Akajutibiro: Terra do Índio Potiguara (2004).
Eva Potiguara
Eva Potiguara é uma das articuladoras do coletivo “Mulherio das Letras Indígenas”, que estimula a escrita entre mulheres indígenas, como instrumento de resistência e preservação cultural. (Foto: ONU Mulheres/Webert da Cruz)
Eva Potiguara é doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, escritora, produtora cultural, ativista das causas indígenas e ambientais, membro da Academia de Letras e Artes do Brasil, da Academia de Letras e Artes de Lisboa e da Acádemie Luminescence de Letras, Artes e Ciência da França. É uma das gestoras do “Mulherio das Letras Indígenas”, criado em 2022, como instrumento de resistência e preservação cultural, que busca dar voz às escritoras indígenas.
De acordo com a escritora, a importância da Literatura para os povos indígenas é inegável. “A literatura, para nós, se tornou como um pássaro que quebra fronteiras do tempo e do espaço. É onde podemos, a partir das inspirações das narrativas, trazer a cosmovisão de cada povo e denunciar as armadilhas racistas que ainda hoje são muito fortes no país”.
É ela quem diz: “No século 21, há muitos indígenas que escrevem e escrevem muito bem. O que escrevem? Escrevem o que já se colocava no urucum e no jenipapo: suas dores, lutas, cosmovisões. É uma escrita feita de muita coragem, perseverança e resistência. E foi por isso que chegamos até aqui”. Em entrevista à Revista Az Mina, ela falou da importância das mulheres para a preservação cultural indígena: “As mulheres, especialmente nossas ancestrais, deram a nós os olhares dos nossos povos. Os povos têm suas diferentes formas de ver – a natureza, o universo, as relações ambientais, com o tempo, com todos os elementos da natureza – e esse saber da tradição é muito valioso para nós”.
Truduá Dorico
Truduá Dorrico, escritora, pesquisadora e curadora de literatura indígena, descendente do povo Macuxi (foto divulgação).
Eu a conheci como Julie Dorico. Foi no Webinar Literatura Indígena: A produção autoral contemporânea e seus ensinamentos, promovido pelo Siseb (sistema Estadual de bibliotecas de SP), em parceria com o Poiesis (Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura), em 2021.
Ela é doutora em Teoria da Literatura pela PUC do Rio Grande do Sul, é pesquisadora e curadora de Literatura Indígena, foi a idealizadora da página @leiamulheresindigenas no Instagram e do canal no Youtube Literatura Indígena Contemporânea. É autora da obra Eu sou macuxi e outras histórias. Tanto quanto as anteriores, é uma potência no que faz. Para ir direto ao ponto, indico seu canal no Youtube, que diz muito sobre seu trabalho e nossos escritores indígenas. Não deixe de acessar.
https://www.youtube.com/@literaturaindigenacontempo8317/videos
Aline Pachamama
Aline Pachamama é indígena da etnia Puri, historiadora e Idealizadora da Pachamama Editora. (foto: arquivo pessoal)
Pertencente à etnia Puri, seu nome é Aline Rochedo Pachamama-Churiah Puri. Ela é doutora em História Cultural pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense.
É idealizadora do projeto “Reparação Linguística, Histórica e Cultural” da Pachamama Editora, publicando os primeiros livros bilíngues e polilíngues de povos originários. Autora de livros na área de cultura e diversidade, como “Guerreiras - Mulheres indígenas na cidade, mulheres indígenas na aldeia” e do livro infanto-juvenil polilíngue “Taynôh” (Guarani, Xavante, português e espanhol).
Auritha Tabajara
A escritora Auritha Tabajara ao lado da avó, sua inspiração para contar histórias. “Minha avó é minha maior referência e a minha incentivadora de tudo. Ela não sabe ler, não sabe escrever. Ninguém da minha família, dos mais velhos, sabe. Meu avô era vaqueiro improvisador de toadas, que não estão escritas em lugar nenhum, eram coisas ancestrais” (foto: arquivo pessoal)
Auritha Tabajara ficou conhecida nacionalmente como a primeira cordelista indígena do Brasil. Ela nasceu em Ipueiras-CE, pertence ao povo que habita o litoral brasileiro no trecho entre a ilha de Itamaracá e a foz do rio Paraíba. Desde criança escreve em versos. Hoje é escritora, poeta e contadora de histórias.
Ela conta que, ao chegar no curso de magistério, desde o primeiro dia de aula escreveu todos os relatórios em versos. “A Secretaria Estadual de Educação achou interessante, editou e publicou as minhas anotações”, conta. Esse livro, Magistério indígena em verso e poesia, tornou-se leitura obrigatória nas escolas públicas do Ceará. Ela lançaria ainda Coração na aldeia, pés no mundo, todo em cordel, com rimas em sextilho e septilho.
Auritha escreve sobre temas variados, principalmente relacionados à natureza, devastação, desmatamento e queimadas que acontecem em territórios indígenas. “Também tenho me dedicado a escrever sobre a luta das mulheres indígenas, sobre a comunidade LGBTQIA+. Quando eu afirmo que nós, mulheres indígenas, escrevemos com várias vozes, eu estou dizendo que nós escrevemos com todas as vozes da ancestralidade”, diz a cordelista.
Lucia Morais Tucuju
A escritora e professora Lucia Morais Tucuju, de origem indígena do povo Kumarumã, do Amapá, nos ofereceu um universo em narrativas produzidas por mulheres indígenas. (fotos arquivos pessoais).
De origem indígena do povo Kumarumã, de Macapá-Amapá, Lucia Morais Tucuju é escritora, professora, especialista em literatura infantil e juvenil, pesquisadora, contadora de histórias, atriz, ativista de bibliotecas comunitárias e da cultura e literatura indígena.
Lucia Morais Tucuju foi responsável pelo módulo sobre literatura indígena da pós-graduação sobre Literatura de Autoria Feminina, da qual participo. Nesses encontros, ela generosamente nos apresentou escritoras, poetas e ativistas – mulheres indígenas que têm na palavra e na escrita a sua força. Foi um curso lindo, em que tivemos contato com belos poemas e textos literários sobre nossos povos originários e discutimos o seu contexto.
Há muitas outras escritoras indígenas
Como disse anteriormente, impossível destacar aqui todas as escritoras indígenas brasileiras, igualmente importantes. Citarei mais algumas: Marcia Kambeba, Graça Graúna, Marcia Murá, Ângri Kaingang, Zélia Balbina Puri, Aline Kayapó, Denizia Cruz Kawani Fulkaxó, Telma Tamba Tremembé, Lia Minapoty, Claudia Almeida Flor D´Maria, Bruna Karipuna e tantas outras.
E assim te convido a pesquisar a obra dessas mulheres maravilhosas, todos os seus escritos estão muito acessíveis pela Internet.
E a dica imperdível que falei
Há no Brasil um levantamento de escritores indígenas. É um site, chamado Bibliografia das Publicações Indígenas no Brasil. Foi criado pelo escritor Daniel Munduruku e dois bibliotecários. É fantástico e você pode acessá-lo neste link: https://pt.m.wikibooks.org/wiki/Bibliografia_das_publica%C3%A7%C3%B5es_ind%C3%ADgenas_do_Brasil
Outra excelente fonte de pesquisa é a Livraria Maracá, uma livraria online, especializada em literatura indígena produzida no Brasil, com obras de escritores de diferentes povos e regiões do país.
https://www.livrariamaraca.com.br/
E para encerrar
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