Olá, leitora. Olá, leitor. Tudo bem?
Fiz uma promessa no começo deste mês, na edição anterior desta newsletter – a de falar das escritoras reconhecidas por importantes prêmios literários definidos nas últimas semanas. Eu já tinha conhecimento das vencedoras do Prêmio SP de Literatura, as escritoras Luciany Aparecida, com Mata Doce (Alfaguara), como melhor romance; e Eliane Marques, com Louças de Família (Autêntica), como melhor romance de estreia.
Dias antes, havia saído o resultado do Prêmio Biblioteca Nacional, onde tivemos Maria Valéria Rezende na categoria Conto, com Toda palavra dá samba; Micheliny Verunschk e Maria José Silveira como finalistas em romance, com Caminhando com os mortos (Companhia das Letras) e Farejador de águas (Instante). E, na semana seguinte, tivemos os vencedores do Prêmio Jabuti, entre elas autoras que também quero destacar aqui.
Já me perguntaram porque dou tanta atenção a prêmios. Poque eles são importantes para quem os recebe, representam o reconhecimento da comunidade literária envolvida e propicia divulgação de obras e autores. E como minha promessa foi a de falar deles, aqui vai.
Prêmio SP de Literatura 2024
Venho dizendo, a todo instante, que Mata Doce foi um dos livros mais bonitos que li este ano. Luciany Aparecida nos presenteou com uma narrativa poderosa, lírica, intensa, de tirar o fôlego, ao criar um vilarejo no interior da Bahia, fundado e tocado ao longo dos anos por mulheres. A doce Maria Tereza, que se transforma em Filinha Mata-Boi depois de um crime às vésperas de seu casamento e a tragédia modifica tudo nas terras de Mata Doce, onde as pedras do lajedo e o casarão da família vão acolher mulheres necessitadas de socorro físico e emocional.
Tão delicado quanto impactante, o romance traz uma linhagem de mulheres reunidas numa história onde o passado e o presente se misturam por episódios e personagens inesquecíveis. Só lendo para entender a força vital que representam. O livro foi vencedor do Prêmio SP de Literatura 2024, finalista do Jabuti e semifinalista do Prêmio Oceanos.
Já o melhor romance de estreia aclamado no mesmo prêmio foi Louças de Família, de Eliane Marques, que ainda estou lendo. Uma escrita inquietante, com uma mistura de português, espanhol e iorubá, a narradora nos conta sobre sua tia, a empregada doméstica Eluma, nascida e criada no batuque de religiões afro e que morre fazendo parte da igreja universal e a sua morte é o ponto de partida para o romance.
Não será só sobre tia Eluma esta fala, ela é apenas o mote para que a narradora de Louças de família reconstrua, em uma cidade fronteiriça entre o Brasil e o Uruguai, a linhagem de sua família materna, suaa sobrevivência em uma sociedade assentada nas distinções raciais e na subalternidade. Neste primeiro romance de Eliane Marques, ela traz as histórias de suas ancestrais para investigar feridas coloniais que ainda sangram. Com poesia, com amorosidade e também com muita clareza de que essa história deve sempre ser contada.
Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2024
Começo falando das escritoras Maria Valéria Rezende e Maria José Silveira, segundo e terceiros lugares desta premiação, que já foram tema dessa newsletter.
Sobre a obra de Maria Valéria Rezende, publiquei a News em agosto de 2022 e te convido a acessar aqui:
https://vanessameriqui.substack.com/p/mais-uma-maria-a-me-emocionar
Ainda não li Toda palavra dá samba, que a tornou vencedora do Prêmio Biblioteca Nacional 2024 na categoria Contos. O livro é fruto de um projeto da autora, que já dura cerca de 20 anos, o Clube do Conto de João Pessoa, que propõe tanto o exercício da escrita quanto o da leitura de contos. Os 28 contos escritos por ela e que compõem o livro premiado vieram do exercício no qual, a partir de uma palavra, os participantes são estimulados a criar uma narrativa. E, se as palavras escolhidas por ela deram samba, o samba todo virou prêmio. Estou esperando o meu exemplar e sei que vou gostar, como tudo o que já li dela.
Toda palavra dá samba, livro de Maria Valéria Rezende, vencedor do Prêmio Biblioteca Nacional 2024, na categoria Contos.
Falei de Maria José Silveira em uma newsletter publicada em abril deste ano. Eu tinha acabado de ler Farejador de Águas, livro finalista do prêmio em questão. Também te convido a ler essa publicação, basta clicar neste link:
https://vanessameriqui.substack.com/p/maria-jose-silveira-a-zeze
Zezé, como gosta de ser chamada, traz no seu romance farejador de águas, o Zé Minino, e Maria Branca, a Anja, se conhecem ao seguir a Coluna Prestes por longos caminhos. O amor entre eles atravessará quase um século de história, que o leitor percorrerá, junto com o casal e seus filhos. Minino sente o cheiro e a proximidade de nascentes de rios e essa sua aptidão por farejar água será o caminho que nos levará ao imenso e agredido cerrado brasileiro.
Como em outras obras que já li de Maria José, a autora nos traz aqui mulheres fortes, mesmo com o protagonismo do menino-homem que fareja águas. Maria Branca vai se juntar a outras figuras femininas, representações arquetípicas inesquecíveis, que nos atentarão para que fatos do passado devem ser vistos com olhos no futuro. Como eu disse na News de abril, farejador de águas é um livro imperdível, necessário, poético e lindo. Um daqueles que se lê muitas vezes e sempre descobrirá bonitezas nele.
Farejador de águas, de Maria José Silveira, terceiro lugar em romance no Prêmio Literário biblioteca Nacional 2024.
E agora faço aqui outra promessa – a de publicar uma News sobre Micheliny Verunschk, com o seu Caminhando com os mortos (Companhia das Letras). Dela, eu li O som do rugido da onça (Companhia das Letras, 2021), que conquistou o Jabuti de melhor romance literário e o terceiro lugar do prêmio Oceanos. Nele, ela nos traz um caso real, em que dois cientistas europeus, em 1817, vêm ao Brasil para pesquisar a Amazônia e voltam não só com seus relatos, mas também com duas crianças indígenas, Iñe-e e Juri que, arrancadas de sua terra, morrem meses depois de chegarem em Munique.
A violência deste fato, em certa medida, também acaba sendo retratada em Caminhando com os mortos, onde uma mulher é queimada viva, em um ritual motivado por razões religiosas, a fim de purificar a vítima e endireitá-la para o “caminho do bem”. Verunschk nos fala de crimes e violências praticadas pelos poderes instalados em toda a sua obra. E faz isso com uma profundidade, com tão belo trabalho das palavras, que quero falar mais sobre ela em breve.
Caminhando com os mortos, de Micheliny Verunschk, segundo lugar na categoria romance, do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2024.
Prêmio Jabuti 2024
Acreditei muito que Mata Doce saísse como melhor romance literário este ano – o prêmio ficou para Itamar Vieira Jr, com Salvar o Fogo (Todavia), outro excelente livro. Mas minha torcida foi para outras escritoras também, que destaco aqui.
Para começar, a categoria Contos premiou em 1º. Lugar Betânia Pires Amaro, que embora como estreante no Jabuti, já havia faturado o Prêmio do Sesc de Literatura 2023 e o Prêmio APCA 2023, com o livro O ninho (Record). Já adquiri o meu e entre um capítulo de Louças de Família e outro, leio um conto de O ninho (você lê dois livros ao mesmo tempo?)
São 15 contos, nos quais a autora aborda acontecimentos nos recantos mais frágeis e perturbadores de um lar. Ela nos convida a acompanhar personagens femininas que enfrentam padecimentos e, ao acompanhar suas histórias, somos lembrados de que a casa pode ser um estranho ninho.
E veio mais uma comemoração contida no Eixo Inovação, quando a minha colega de Casa Editorial – a Patuá – venceu na categoria Escritor Estreante de Romance, com o livro Os náufragos, de Patrícia Larini.
O livro fala de Lucas e sua família. Depois de perder a memória em um acidente, o garoto vê sua vida recontada por seus pais e amigos. Mas será que essa vida é de fato a que ele levava? Será que podemos reescrever nossas histórias mudando alguns fatos dolorosos? O próprio Lucas nos conta sua história. Mas há um outro narrador, esse onisciente, que nos faz acessar o outro lado dos fatos, aquele que os olhos de criança não alcançam. E a família está mergulhada nesse mar, como náufragos.
Os náufragos (Patuá), que deu o primeiro lugar de romance de estreia para Patrícia Larini, no Prêmio Jabuti 2024.
Ainda no Eixo Inovação, Bianca Monteiro levou o primeiro lugar como estreante na categoria Poesia, com o livro Breve ato de descascar laranjas (Macabéa|7 Letras)
E a festa da noite foi de Rosa Freire D’Aguiar, jornalista e escritora, que faturou o primeiro lugar na categoria Crônicas e ainda levou a premiação mais desejada da noite – o Livro do Ano, com Sempre Paris: crônica de uma cidade, seus escritores e artistas (Companhia das Letras).
Para encerrar
É claro que não conseguiria aqui falar de todos os premiados e premiadas, dado o espaço dessa News. Mas parabenizo a todos que estiveram nas listas de todos eles, desde as fases iniciais.
Volto a dizer, para um escritor, esse reconhecimento é muito importante. Tanto, que falo novamente aqui da minha colocação como semifinalista do LOBA Festival Literário, com Contos para Saborear, lançado este ano pela Editora Patuá.
Nele, junto contos protagonizados por mulheres e acrescento pequenas receitas (que vêm de minha memória afetiva) de pratos que, por alguma razão, estarão em cada uma das narrativas. Tenho plena convicção da importância social que essas duas artes – Literatura e Culinária – exercem: resgatam, compartilham e eternizam nossas tradições, valores, heranças e afetos, seja num delicioso alimento ou numa boa história para contar.
Contos para Saborear é Semifinalista do LOBA Festival Literário 2024. Estou aqui na torcida e espero que vocês também.
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Obrigada pela leitura e até a próxima.
As “meninas” estão bombando. Parabéns para você e também para todas que estão se dedicando ao mister da literatura.