"A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite,
...está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza."
Olá, leitora, olá leitor. Tudo bem?
Belo título desta News, não é. É de autoria de Lygia Fagundes Telles, que acredito seja uma das escritoras mais importantes do mundo contemporâneo, considerada por acadêmicos, críticos e leitores como uma das maiores escritoras brasileiras do século XX e da história da literatura brasileira.
Lygia para mim foi única, está entre as minhas preferidas desde sempre. Ler sua obra é ter contato com o que há de mais verdadeiro com aquilo que somos. Toda a sua narrativa traz questões universais, com grande foco para as temáticas femininas, com abordagens tocantes, dramáticas, irônicas, como que falando de nossa vida, acontecendo ali, dentro de nossa casa. E o fez com maestria, com elegância e, ao mesmo tempo, de maneira muito simples. Mas não se engane: as metáforas, os símbolos, a verdadeira magia está toda lá. Foi isso que sempre me arrebatou em sua obra.
Ela publicou, ao longo de mais de 80 anos de vida literária, romances, contos, crônicas em livros solo e muitas participações em antologias e coletâneas. Possui obras traduzidas em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Itália, Holanda, Suécia, Estados Unidos, entre outros países. Seus livros receberam adaptações para o cinema, teatro e TV.
Seu interesse por literatura começou na adolescência: com 15 anos, publicou seu primeiro livro de contos, "Porão e Sobrado". Mas a estreia oficial na literatura aconteceu em 1944, com o volume de contos "Praia Viva". Em 1949, três anos depois do término de seu curso de Direito (sim, ela também atuou como advogada), publicou seu terceiro livro de contos, “O Cacto Vermelho”, com o qual recebeu o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras.
Em 1954, lança o seu primeiro romance “Ciranda de Pedra” e, em 1958, outro livro de contos "História do Desencontro", que recebeu o Prêmio Artur Azevedo do Instituto Nacional do Livro. Em 1960, publica seu segundo romance “Verão no Aquário”, que recebeu o Prêmio Jabuti. O livro de contos “Antes do Baile Verde” é publicado em 1970 e recebe o Prêmio Internacional de Escritoras, na França.
Em 1973, lança “As Meninas”, que se tornaria um dos seus mais importantes romances, com o qual receberia outro Prêmio Jabuti. Este livro teria um outro grau de importância para o País.
Em plena ditadura militar, Lygia não escondia seu engajamento político e comprometimento com a democracia. É neste livro que ela vai denunciar os horrores da tortura praticada pelo governo militar no Brasil, em um diálogo que começa até bem singelo, no qual uma das meninas lê para a freira responsável pelo pensionato onde moram a carta que chegou às suas mãos, escrita por um preso político. O texto descreve as barbaridades das torturas que o rapaz sofreu nos porões da ditadura, um relato terrível e repugnante, para dizer o mínimo.
O livro passou pelo censor, que não chegou a ler até o final – portanto, não viu esse trecho, liberando-o sem cortes. O mais sinistro (e cômico, se não fosse trágico) é que ele ainda registrou em seu parecer que aquele romance era “coisa de mulher”. Sim, coisa de coragem, de ousadia, coisa de mulher mesmo. E para nossa sorte, está lá, na ousada escrita de Lygia. Sabemos do risco e da importância desse relato, uma denúncia que poucos tiveram coragem de fazer à época.
E, se neste livro há tão dolorosas palavras, há também momentos da mais pura magia, como a seguir, e me diz aí se “...sorriso modesto posto no chão” ou “...suspirou com ênfase” não são expressões de arrepiar!
Prêmios
Desde muito jovem já transitava pelos caminhos literários, participou do movimento Pós-Modernista, foi membro da Academia Paulista de Letras, da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Ciências de Lisboa e fundadora da União Brasileira de Escritores. Também sempre chamou atenção sua figura pública, lutou por bibliotecas e dirigiu a Cinemateca, criada por seu marido, Paulo Emílio Salles Gomes, há mais de 60 anos. Ela foi presidente de honra da instituição desde a morte dele, em 1976.
Ao longo de sua carreira, Lygia recebeu importantes prêmios literários nacionais e internacionais, como o Camões, o mais importante prêmio concedido para a Literatura produzida em português; o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros na França; recebeu quatro vezes o Jabuti, nas categorias contos, crônica e romance; o Troféu APCA também várias vezes; entre muitos outros.
E quase foi Nobel de Literatura
A maior distinção viria em 2016, quando Lygia, aos 98 anos, torna-se a primeira mulher brasileira a ser indicada ao Prêmio Nobel de Literatura. Mais uma vez ficou claro ali o que a gente já sabe sobre o Nobel: valorização e predomínio masculino no reconhecimento da Literatura mundial. A própria Lygia, em uma de suas entrevistas, foi bem direta, como era seu costume:
“...Sou uma escritora do Terceiro Mundo, uma escritora engajada nos horrores das diferenças sociais, uma escritora num país de miseráveis e analfabetos. [...] Aqui, os que sabem ler, não leem. Os que compram livros também não leem. [...] Fala-se muito em prêmios. Ora, os prêmios... Escrevemos numa língua desconhecida. Desprestigiada. Não somos lidos nem na América Latina, quem nos conhece na Venezuela? No Chile? Na Colômbia? Participei em Cáli de um encontro da nova narrativa sul-americana, fui para falar do meu trabalho. E acabei informando ao público de escritores sul-americanos que a nossa língua era o português.”
Ela não chegou a ir para Estocolmo receber o prêmio, pois a decisão da academia sueca foi a de entregá-lo a um homem, o cantor Bob Dylan, escolhido por “por ter criado novas expressões poéticas dentro da tradição da canção americana”
Bom, depois dessa, vou ficando por aqui.
E para encerrar
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Até mais.
Muito interessante as informações sobre a escritora Lygia Fagundes Telles. Parabéns
A beleza na incerteza - dá muita conversa boa.
Lygia Fagundes é coragem, inteligência e voz autêntica.
Agradeço pela bela leitura e conhecimento que você proporcionou.